
Abertura
Sonha comigo, Amor!
Sonha comigo, amor! Eu sonho… Há muito tempo eu cultivo sonhos. Dos meus sonhos infantis não lembro, talvez por ser uma época de muita brincadeira, correrias, de dias quentes e outros frios onde o vento soprava gelo e a geada chegava de noite e cobria tudo. Nessas noites eu queria dormir cedo para ficar quentinha. Eu vivia a minha infância numa casa muito pequena, e tudo ao redor desse pequeno lugar era proporcional ao tamanho da fantasia e da imaginação de uma menina. Não tinha exagero, e os recursos eram poucos, mas tinha um porão com terra e areia e muitas brincadeiras criativas. Tinha o poço de pedra, com corda e balde, e o Sol refletido lá no fundo, e não havia o medo de cair porque sempre tinha alguém por perto para ajudar a subir. E tinha o balanço… A primeira queda, o tombo da corda rompida, minha cabeça ferida. Um acidente infantil, coisa corriqueira para uma criança que quer aprender a balançar o corpo para alcançar as nuvens. Não lembro por inteiro, às vezes tento puxar pela memória e tudo que vem é a imagem do meu corpo sendo arremessado no vácuo indo na direção da terra, a cabeça que bate no cascalho do chão. A dor foi forte, e os dias passaram, e tudo voltou ao normal. Outro balanço foi feito, dessa vez no galho da árvore na frente da casa, e eu continuava a me embalar sem medo de me machucar. Se eu sonhava, pouco lembrava. Talvez a vontade de brincar tenha mudado o meu sono, mas a partir da adolescência eu começo a sonhar… Em torno dos catorze e dezesseis anos eu tinha sonhos diferentes e repetitivos. E tinha o sonho que não era sonho, e sim algo que me alertava para acordar, então eu acordava sonolenta e quieta. Nem pesadelo, nem sonho; mais parecia uma brincadeira para me deixar assustada. Havia também os sonhos em que eu não ia para lugar nenhum, ficava sempre no mesmo lugar, parada sem poder sair, janela fechada. Hoje eu tenho meus “sonhários”, cadernos onde escrevo todos os meus sonhos quando acordo. Alguns aconteceram há muito tempo, e a lembrança é tão forte que estão presentes com todos os detalhes, em cores, locais, pessoas e vozes, tudo muito vivo na minha lembrança. Registrados, guardados.