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Capítulos Iniciais

Prenda-me

Um - São Paulo

Abri a porta da sala do editor-chefe do jornal, sem pedir licença. Entrei com toda a fúria que sentia, como um temporal que bagunça as folhas. Joaquim me olhou, por sobre os óculos, com irritação, assim que apoiei as duas mãos sobre sua mesa e inclinei meu tronco para frente. Ele já sabe o que vai ouvir:

— A matéria é minha. A fonte também. Vocês não têm esse direito!

— Sente, Mirella. Vamos conversar.

— Conversar merda nenhuma, Joaquim! Você passou a pauta para o Cris? A minha matéria? — usei meu tom de incredulidade mais agudo.

— É mais seguro, e ele é…

— Homem? — completei, ainda descrente.

— Competente — meu editor tentou se justificar.

— Que bosta, Joaquim! A fonte não vai falar com ele, deixou bem claro! Só fala comigo, você ouviu a ligação — apontei para o peito magro e estreito à minha frente, enquanto caminhava como uma leoa pela sala.

— O Conselho Editorial achou melhor, Mirella. Mais seguro, mais discreto.

— Não sou idiota, Joaquim — fiz uma careta na direção dele.

— Certo, vamos aos fatos. Como você é esperta, já entendeu. Não vamos colocar uma repórter em uma investigação de prostituição e drogas. Algum motivo especial? — ele levantou também — Sim, você é mulher! O alvo deles são mulheres. Como você esperava que a diretoria reagisse a isso? Evidente que querem se blindar!

— Eu que descobri a pauta, Joaquim, e sei me cuidar! Já mostrei isso antes, diversas vezes!

— Com outros assuntos, Mirella. Não vou pôr uma repórter para investigar prostituição e suposto tráfico de mulheres.

— Isso é tão sexista, Joaquim, que chega a ser nojento! Eu sei me cuidar, sei me defender. E não vou aceitar ser posta para fora do jogo agora!

Joaquim deu um murro na mesa e sentou em sua confortável cadeira de encosto alto. Passou a mão pelos fartos cabelos acinzentados, reorganizando-os. Cruzou os braços diante do peito e ficou me encarando. Não falou mais nada, até que eu me acalmasse e por fim, com um suspiro forte, sentasse também.

— O que você quer provar, Ella? — perguntou, com paciência.

— Não preciso provar nada!

— Se eu mandar outro, você aceita?

— Não! — ergui-me de novo e dei-lhe as costas — Isso não tem nada a ver com o Cris.

— Pois eu acho que tem sim. Só estou na dúvida se a dor de cotovelo é por ele ou pela matéria.

Respirei fundo, apertando o espaço entre meus olhos. Era isso ou matar meu chefe, e não estou disposta a perder meu réu primário por ele ou pelo Cris. Aguardei minha fúria interior se acalmar e me virei, melhorando meus argumentos.

— O Cristiano não tem nem metade da experiência e da capacidade que eu tenho. Vai perder essa matéria em dois dias. É preguiçoso e desleixado e sei disso, porque vivi com ele — apoiei minhas duas mãos sobre a mesa e lancei meu corpo para frente, ameaçadoramente, outra vez — Essa matéria é minha e se algum outro repórter a pegar, eu juro, Joaquim, vou contatar a fonte e dizer que a matéria foi corrompida.

— Isso é um golpe baixo, Mirella!

— Idêntico à rasteira que vocês estão querendo me passar.

— O Conselho não vai aceitar isso, eles querem o Cristiano — Joaquim tirou os óculos e esfregou a fronte com as pontas dos dedos. A dor de cabeça que ele deveria estar sentindo só iria aumentar, eu tinha certeza.

— Esse é um problema seu. O meu é descobrir onde compro a passagem mais barata para Manaus. Mando a nota.

Saí da sala batendo os pés, da mesma forma que entrei. Os olhos da redação me acompanharam, esperando o segundo round daquela discussão. Parei, por dois segundos, para encarar um par de olhos azuis em um rosto bonito, que me desafiava. Ergui o dedo do meio para Cristiano, meu ex-namorado. Essa perna ele não vai me passar.


****


Uma semana depois, estava em casa, comendo pipoca e vendo filme, quando meu celular tocou. Um número desconhecido aparecia no visor e eu atendi, sabendo quem era.

Mandei um e-mail para aquele endereço — a voz da minha fonte, distorcida por um programa de computador, avisou e desligou.

Silenciei a televisão e peguei meu computador portátil. Acessei a conta, que havia criado com um e-mail falso, e abri. Um e-mail não lido aguardava, com arquivos em anexo. Eram duas fotografias, tiradas à distância, mas aproximadas por uma boa lente. Três homens apareceram na primeira, com flechas sinalizando seus nomes.

→ Gutierrez: cabelo liso e negro. Lembrava um indígena, pelo tom da pele e pelos olhos levemente puxados. Segundo a fonte, ele era colombiano e um dos homens que mandavam na operação.

→ Rob: branco, barba e cabelo castanho-claro. Cabelos na altura dos ombros, musculoso e alto. Mais corpo do que cérebro, imaginei.

→ Marco Antônio: Careca, mais baixo dos três, afrodescendente. O responsável pelas operações e lavagem de dinheiro.

Esses três eram meus alvos investigativos, o braço da operação no Amazonas. A foto seguinte mostrava o barco Iara, que o cartel usa para transportar a droga e as mulheres ribeirinhas, que compram e vendem, segundo a fonte. Peguei o telefone e liguei para Joaquim.

— Recebi as fotos.

Dá para identificar os suspeitos?

— Perfeitamente. Mas só vou enviar para você após chegar ao hotel.

Essa desconfiança é ridícula, Ella!

— Mas é a minha garantia — ouvi o suspiro exacerbado dele do outro lado da linha.

Vou confirmar sua ida e pedir proteção policial para você.

— Não quero nenhum policial ao meu redor, Joaquim. Não conseguiria investigar direito, assim.

São os termos da direção do jornal, para alguma emergência.

Bufei e desliguei o telefone, mas não voltei ao filme. Arrumei minha mala enquanto pensava na vida. Ser jornalista sempre foi meu desejo, mas me tornar uma entidade sem rosto, sem nome e sem história, foi acidente. Para todos os efeitos jornalísticos, sou Jorge Furtado, um homem. Todas as minhas pautas investigativas são assinadas assim.

Perdi meus pais quando ainda cursava a faculdade. Comi o pão que o Diabo amassou, nos anos seguintes, sozinha. Concluí o curso e consegui emprego no jornal Gazeta Meridional, um dos maiores do país. A pauta investigativa foi me atraindo, caiu no meu colo como uma fruta.

Meu primeiro caso foi um desmanche ilegal de carros. Depois veio uma questão envolvendo caça-níqueis. Política. Corrupção. Sempre bons furos. Boas fontes. As pessoas confiam em mim, na minha capacidade de investigar e elucidar os fatos com competência e seriedade. Elas apenas nunca me veem, nem ouvem minha voz. Por isso, passo despercebida nas investigações. Julgam-me pela capa.

Deve ser esse meu corpo pequeno, dentro do qual escondo uma fera. Tenho meu melhor sorriso meigo, quando preciso, e sou a melhor atriz, quando quero. A facilidade de me misturar e interagir. E isso abre muitas portas.

Eu sei que sou bonita. Tenho espelho. Um corpo firme, magro, cabelos loiros e cheios, olhos verdes. Quando sorrio, duas covinhas se formam do lado da minha boca de dentição perfeita e lábios grossos. Mas pobre da pessoa que me resumir a isso. Homem ou mulher. Encaro e mando ver. Luto, corro e atiro. Aprendi tudo isso porque precisei, não porque gosto. Faz parte da minha necessidade de defesa, não apenas por causa da profissão, mas pelo simples fato de eu ser mulher. Felizmente, não usei nenhuma dessas habilidades, em uma investigação até hoje.

Se bem que dei uns socos no Cristiano, quando, depois de cinco anos morando juntos, o peguei no banheiro da redação, transando com uma estagiária. Clássico, não é? Fazer o quê. Minhas covinhas não o agradavam mais, acredito. E isso faz seis meses. Ainda não engulo, sequer, olhar para ele.

Essa investigação sobre tráfico de drogas e mulheres também caiu no meu colo, graças a um contato de uma das reportagens sobre corrupção. Rubens mandou mensagem, perguntando se me interessava investigar, já que a polícia estava fazendo vistas grossas, segundo ele. Achei estranho a Polícia Federal não estar de olho, mas em nosso país, nada mais me admira. Assim, entrei em contato com essa pessoa do Amazonas e a denúncia pareceu quente. E a diretoria do jornal queria me tirar desse furo e passar para o bosta do Cristiano. Só por cima do meu cadáver!

Separei as roupas mais coloridas que encontrei: vestidinhos leves e florais, blusinhas de alcinha e shorts jeans. Chinelo, sandália e sapatilha. Biquíni e saída de banho, afinal, nunca se sabe. Vou para o Amazonas no período da seca com calor de quarenta graus. É trabalho, mas faz parte do meu personagem bancar a turista deslumbrada.

Também separei roupas mais propícias para a investigação: regata escura, boné, bota curta. Tem hora de bancar a turista, tem hora de mostrar a que vou. Tudo pronto, voltei para a sala e dei play no filme cheio de romance e pancadaria, bem como eu gosto.


****


Na manhã seguinte, já na redação, Joaquim me orientou, sob a supervisão desnecessária de Cristiano.

— Este será o seu celular, o contato de emergência está salvo para chamar a Polícia Federal do Amazonas. Não importa onde for ou o quê, se você se sentir ameaçada é só digitar um e ligar. Também tem um programa de GPS e de dados, escondido que vai rastrear você, sempre.

— Ainda acho muito arriscado — Cristiano suspirou, frustrado.

— Cala a boca, Cris! — reclamei. — Você não tem uma pauta de economia para escrever?

— Estou preocupado com a sua segurança, Ella.

— Dispenso. Mais alguma coisa? — perguntei, me voltando para Joaquim.

— O celular é a prova d’água — ele sorriu — pensei que lá, isso seria importante. E a lente da câmera é profissional.

— Você é o melhor — sorri para meu editor.

— Queria poder incluir um aplicativo que lhe desse choque, cada vez que pensar em fazer merda, mas…

— Tranquilo, Joaquim. Relaxe — eu ri da preocupação visível dele — esse celular do James Bond é tudo que preciso. Mando notícias, assim que chegar ao hotel em Manaus, e a senha do e-mail secreto.

— Se cuide lá, Mirella. Essa operação não é como as outras, não hesite em largar tudo, se precisar.

— Prometo — peguei a caixa com o celular e saí da sala.

Não demorou muito para sentir a mão do Cristiano no meu pulso e me virei para ver o que aquele traste ainda tinha para falar.

— Me deixe ir com você, Ella. Vamos fazer isso juntos, é mais seguro.

— Não me sentiria segura com você nem no Paraíso, Cris — o rosto dele fechou ainda mais e se aproximou do meu.

— Está se pondo em risco por um ciúme ridículo. Despeito não combina com você, Ella.

Engoli a vontade de chutar aquele saco perto do meu joelho e aproximei ainda mais meu rosto do dele, nossas bocas quase se tocaram e pude ver sua íris abrir, escurecendo o azul de seus olhos cheios de desejo e expectativa, quando me aproximei de seu ouvido.

— Vai à merda, Cristiano! — disse, baixo e lentamente, a menos de um centímetro de sua boca. Puxei meu braço e me afastei dele.

Dois - Manaus

Anoitecia, quando o avião pousou em Manaus. Peguei um Uber e fui para o hotel, onde tomei um bom banho, jantei e me atirei na cama. Estava cansada, mas sem sono. Puxei o laptop e comecei a trabalhar. Reli os e-mails que troquei com a minha fonte, reorganizando as suspeitas, tudo que seria interessante para o meu trabalho. Elaborei uma pauta, levantando as hipóteses que preciso desvendar.

Pesquisei sobre o barco Iara e encontrei alguns blogs que narram a experiência a bordo com imagens. Viagem tranquila. Visual surpreendente. Tecnobrega. Proibido casal na mesma rede.

Que hilário! Um cartel, que promove a prostituição e o tráfico de drogas, sendo moralista. Voltei a olhar para a foto do barco. Todo branco e com gradil em azul-claro, tinha quatro andares, um deles abarrotado de redes de dormir, coloridas, privacidade zero. Tinha foto da cabine, ou como chamavam, da suíte. Estava mais para "espelunca com banheiro”, mas não sou fresca. Passei por coisas demais na vida para me incomodar com a falta de luxo.

Na manhã seguinte, vesti meu look meigo de turista, me emplastrei de filtro solar e fiz o check-out do hotel. O site do barco indicava que zarparia ao meio-dia, então me adiantei. Cheguei lá às onze e dez. Comprei uma passagem na “suíte” do deck superior, que a moça garantiu ser mais arejado, e atravessei o pontilhão na direção do Iara.

Um movimento de carregamento de bananas chamou minha atenção. O homem, que minha fonte indicou como sendo Gutierrez, estava por ali, observando a carga. Reconheci seu aspecto de indígena colombiano, com o tom de pele moreno e olhos estreitos. Tinha correntes de ouro no pescoço, com uma grande cruz e fumava, recostado na balaustrada do barco. Não me viu, e achei melhor não dar chance. Entrei no barco e segui o caminho para o deck superior, dois andares acima.

A suíte era aquilo mesmo. Um beliche com banheiro, mas por graça de Deus, com ar condicionado e frigobar. Custava uma fortuna e algum benefício tinha. Apoiei a mala sobre uma cadeira e aquele era meu armário. O banheiro também era espartano: vaso, pia e um chuveiro. Experimentei o colchão que era fino e macio. Prefiro firme.

Quando deu meio-dia, pensei que zarparíamos, mas continuamos parados por algum motivo. Decidi sair da cabine e investigar o atraso. Coisa de jornalista, que tem mania de saber tudo.

Exatamente como o blog avisava, um som alto de tecnobrega vinha da direção do restaurante e fui até lá. A parte comum do barco ficava atrás da cabine de comando, e tinha uma área coberta, com algumas mesinhas de plástico e cadeiras. Com fome, pedi um prato feito e puxei assunto com a moça do caixa.

— Que calor! É sempre assim? — realmente, após sair do ar condicionado, foi o mesmo que ter uma parede maciça de calor e umidade me recebendo.

— Ah, sim! Nessa época é, mas hoje está menos quente do que semana passada.

— Jura? Fica pior?

— Fica — ela riu da minha expressão desolada.

— Pensei que sairíamos ao meio-dia — introduzi.

— Houve um atraso com o carregamento de bananas — ela olhou para frente, como se pudesse enxergar, de onde estava, o caminhão.

— Ah, menos mal. Pensei que fosse algum problema com a embarcação. Qual seu nome?

— Maria Luz — ela parece bem jovem, mal passou dos dezoito, acredito.

— Prazer, me chamo Ella!

A moça sorriu, me observando por alguns segundos, e entregou o prato, servido em uma marmita de isopor junto com um copo de caldo de cana. Despedi-me e procurei uma mesa perto da balaustrada, de onde consigo enxergar o movimento no cais. Um caminhão ainda descarregava bananas, pelo visto, vai demorar, porque tem uma grande quantidade aguardando.

Dois homens se aproximaram da porta do motorista. Reconheci a careca negra e brilhante de Marco Antônio e o homem de costas imaginei que fosse o Rob. Forte e alto, sua mão pousou com força na janela do caminhão e seu braço era um tronco largo. O pouco cérebro, lembrei. Típico. Eles falaram com a pessoa na cabine, por fim, Rob bateu na porta com o punho fechado, em um gesto que mandava agilizar.

Ao meu redor, outras pessoas já chegaram para o almoço, comentando o atraso na saída. São famílias inteiras e outros solitários, como eu. Este não é um barco que faz a linha convencional. Está mais para o tipo pinga-pinga, pois vai de vila em vila. Evidente que isso tem um motivo por trás. O que parece ser uma vantagem para as pessoas das aldeias ribeirinhas, certamente é um grande negócio para o cartel colombiano.

Atrás de mim, sentaram dois homens, que falavam em inglês, e prestei atenção, recostando-me na cadeira de plástico.

— Deveríamos ter ficado nas cabines, é mais privativo — a voz era grave e bonita.

— Mas nas redes teremos uma experiência mais autêntica, não era o que você queria? — disse o outro.

— Mas não dormiremos juntos — o primeiro reclamou.

— Daremos outro jeito.

Ouvi os risos maliciosos e ergui as sobrancelhas. É, quem quer, dá sempre um jeito, pensei. Um flash rápido de Cristiano com a estagiária, que eu nunca soube o nome, cruzou minha mente. Vi seu rosto, através do espelho sobre a pia do banheiro, a expressão de gozo iminente, sobrancelhas franzidas, mordendo o lábio inferior e de olhos fechados, enquanto estocava contra a bunda arrebitada à sua frente. Ele deu um jeito. E eu dei um jeito dele sumir da minha vida.

— Você não é daqui, não é? — Maria Luz retirou o copo e a marmita, passando um pano úmido pela mesa de plástico.

— Não, estou de férias.

— Dá para perceber — ela sorriu e se afastou.

Terminado o almoço, fui até a balaustrada e o caminhão já estava quase descarregado. Saquei meu telefone e me posicionei para uma selfie, mas foquei na placa do caminhão. Devia ser fria, mas também poderia ter sorte e me levar a um nome. Examinei a imagem, aproximando dos números. A câmera do aparelho era boa mesmo, me admirei. Ponto para Joaquim.

Guardei o aparelho no bolso e olhei ao redor. Gutierrez, Marco Antônio e Rob chegavam ao restaurante e decidi ficar por aqui mesmo. Voltei ao caixa e pedi uma água para Maria Luz, ocupando uma mesa um pouco mais perto deles. Foquei os olhos na tela desligada do meu celular, disfarçando, prestando atenção na conversa pouco discreta.

— … de uma incompetência do caralho! Perdemos duas horas — Gutierrez reclamava e sua voz tinha o sotaque típico de quem tem o espanhol como língua nativa.

— O Matias compensa — Marco Antônio apaziguou.

— Rob, na volta você vai conversar com o Santiago, foi a última vez que ele me falou assim.

— Como queira, Gutierrez. Quanto de conversa você deseja? — a voz, que imaginei ser a de Rob, respondeu.

Nem prestei atenção na resposta de Gutierrez, pois minha cabeça levantou de imediato, buscando a fonte daquela voz grave e rouca, que arrepiou os pelos da minha nuca, no mesmo instante, em que senti minhas bochechas ferverem.

Eles riram da resposta de Gutierrez e Rob mostrou os dentes brancos e perfilados, um sorriso deslumbrante, em uma boca carnuda, misturada à barba grossa e castanha que ele alisou com a mão espalmada.

Puta que pariu! Eu já tinha percebido ser bonito pelas fotos, mas pessoalmente, ele era um conjunto perfeito de beleza e força. Ainda rindo de algo que diziam, apoiou os braços cruzados sobre a mesa e se inclinou, levemente. Ao buscar o ar, entre uma gargalhada e outra, seu olhar caiu no meu.

Eu estava petrificada, mas percebi o sorriso morrer lentamente em seu rosto bonito e as sobrancelhas se franzirem um pouco. Ficou imóvel como eu, me olhando sem piscar. A intensidade do olhar me tirou o ar e os sentidos. Parei de ouvir e enxergar o ambiente ao meu redor. O magnetismo dele chegou até mim, como uma onda que vai quebrar contra os rochedos. Rob interrompeu o contato, piscando, e voltou a olhar para Marco Antônio, que o chamava.

Na grande caixa de som da lanchonete, uma voz feminina cantava, no ritmo frenético do tecnobrega.

Fogo… fogo… Eu tô pegando fogo…

Eu também. Minha boca estava seca, meu corpo formigava e eu ainda não respirava.

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