Capítulo Inicial
Os Caminhos da Bússola
Capítulo 1
Depois das aventuras que viveu ao lado de Dúzia, Pedro Enrique voltou à sua vida normal. No entanto, nem tudo continuava igual. Sentia saudades de Maria Vitória e às vezes voltava ao lugar onde havia comprado o picolé. Tentava encontrar outro que o levasse de volta ao mundo mágico.
— É Dúzia, não foi desta vez…— Pedro Enrique, ainda com a boca melada, olhou inconformado para o palito. Já havia experimentado de tudo, deixava o sorveteiro escolher, pedia para Dúzia indicar com o focinho, pegava os sabores mais estranhos, nada o levava de volta ao mundo encantado onde viveram as aventuras ao lado de Maria Vitória.
Agora que sabia que o cachorro falava sempre, mesmo que não fosse compreendido, o menino sentia falta de conversar com ele.
Tinha saudades dos comentários, ficava imaginando o que o cão diria em determinadas situações. Chegava a ouvir a sua voz.
Dúzia, por sua vez, continuava a se divertir assistindo televisão nos pés da vovó e aproveitava muito os passeios, que agora eram mais frequentes.
Um latido raivoso fez Pedro Enrique abrir a porta para ver o que acontecia:
— Dúzia! — gritou Pedro Enrique após quase ser derrubado.
O cão perseguia um rato no pátio. Ao perceber a aproximação, o roedor arregalou os olhos e escondeu-se em uma fresta do muro. Dúzia parou, cheirou a abertura e latiu de novo. Com a pata, tentou assustar o animal. Ao encostar na fenda, esta cresceu até ficar grande o suficiente para que uma pessoa passasse. Sem hesitar, Dúzia atravessou o portal.
Ao perceber que o amigo havia sumido na parede, Pedro Enrique foi até lá. Curioso, espiou o buraco. Dúzia estava num mundo mágico, parecia diferente dos lugares que tinham visitado antes.
— Venha! Estamos esperando você! — disse o cão balançando a cabeça em tom de convite.
Feliz por ouvir a voz do cão, o menino deu um passo e entrou. Mal terminou de cruzar, escutou um barulho, olhou para trás, e o portal fechou-se. Virou-se novamente e encontrou Dúzia sendo acariciado por Maria Vitória.
Pedro Enrique ficou muito contente de rever a amiga, já estava perdendo as esperanças de que isso pudesse acontecer.
— Que saudades! — disse a menina correndo para abraçar Pedro Enrique.
Depois de quase sufocar com a demonstração de afeto, Pedro Enrique reparou que estavam no meio de um grande círculo de pedra dentro do qual havia mais dois círculos, um dentro do outro. O pequeno ficava no centro dos demais, tinha uma metade branca, com um sol desenhado, e outra preta, onde havia uma lua. O intermediário estava separado em cinco partes. O de fora era dividido em doze, como se fossem fatias de pizza. Doze colunas faziam o seu contorno.
— Que lugar é este? — perguntou o menino olhando em volta. Tudo era muito diferente do que já havia visto.
— Não sei ao certo. Fui trazida para cá depois de pegar esta bússola — respondeu Maria Vitória estendendo a mão e mostrando o objeto que, no lugar dos pontos cardeais, marcava madeira, metal, água, terra e fogo.
A menina contou que, depois que os amigos voltaram para casa, ela e o pai arrumaram umas mudas de roupa, algumas coisas para comer e saíram em busca da mãe desaparecida. Por sorte, a bolsa tinha um fundo infinito, cabia tudo lá.
Andaram por muitos caminhos esquisitos. Visitaram lugares que nem apareciam no mapa, cruzaram montanhas cujos topos saíam para fora do planeta, conheceram muitas pessoas, mas não encontraram quem procuravam.
Um dia, chegaram a uma biblioteca que parecia ter algumas pistas. Foi lá que Maria Vitória achou um livro com um desenho estranho na capa. Parecia uma bússola. Na esperança de que pudesse mostrar algum lugar diferente, aproximou-se, esticou a mão para pegá-lo e ouviu o pai gritar:
— Cuidado! Não toque nisso!
Tarde demais. Ao encostar no objeto, a menina foi sugada. E foi assim que ela acabou no lugar onde mais tarde encontraria os amigos.
Pedro Enrique esticou a mão em direção à bússola. Queria vê-la melhor. No entanto, parou antes de encostar. Teve medo de ser levado para algum outro lugar. Enquanto decidia o que fazer, o rato reapareceu atrás da coluna, e, ao avistá-lo, Dúzia voltou a correr. O menino e Maria Vitória seguiram os animais.
“Aonde esta aventura nos levará?” perguntou-se Pedro Enrique.