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Capítulos Iniciais

Meu falso Barão

Prólogo


Martin

Porto Alegre, 1903.

Tenho bem viva a lembrança de quando vi o hotel pela primeira vez. Eu tinha treze anos. E nessa idade, tudo nos parece ainda maior e mais longe do que é na realidade.

A carroça que levava todos os pertences da minha família, passou pelo portão de ferro trabalhado, que ostentava no alto o nome do estabelecimento, e seguiu por uma alameda cercada por majestosas palmeiras, ao final da qual surgia o grande prédio do hotel que seria inaugurado em alguns meses.

Diversos funcionários trabalhavam para deixar tudo pronto. Jardineiros, pintores, marceneiros. Eu nunca tinha ido a uma batalha, mas aquilo me pareceu com o que ouvi chamar de “campo de guerra”.

O Grand Hotel Montenegro parecia um palácio. Eu também nunca tinha visto um, pessoalmente. Quem gostava de contar sobre eles era o meu avô, que veio da Prússia e conheceu alguns. Eu cresci em um hotel, mas bem menor do que aquele para onde me mudava com meus pais, que foram contratados como empregados. Nesse outro, onde nasci, nós éramos os donos.

Outra diferença, além do tamanho e do luxo, é que esse ficava longe do movimento da cidade, em uma área de campo e matos, indo na direção do sul da cidade. O nosso antigo hotel era pequeno, estreito e ficava no centro da capital do estado.

O imenso prédio, de três alas e quatro andares, tinha mais janelas do que consegui contar, naquele primeiro momento. Era todo amarelo, o telhado tinha mansardas e uma grande porta principal, por onde se chegava após uma escadaria de vários degraus.

Dizem que o Brasil já teve um imperador. Ele, certamente, moraria em um palácio como o Hotel Montenegro. Mas nós, empregados, não subiríamos a escadaria, nem atravessaríamos a grande porta dupla, com o arabesco GHM talhado na madeira. Meu pai contornou o edifício luxuoso e parou a carroça diante de uma porta lateral, quase escondida sob o terraço largo.

Aguardamos algum tempo, até que alguém veio nos receber e nos encaminhou para o quartinho, no subsolo, onde viveríamos. A cama de casal e a de solteiro ficavam no mesmo ambiente, separadas por uma mesa de cabeceira. Tinha um roupeiro de duas portas, uma pequena mesa para trabalho e uma cadeira. Em uma das paredes, próximo ao teto, um respiradouro trazia os sons da rua, alguma luminosidade e ar fresco.

— O lavatório coletivo fica no final do corredor. O banho não deve ultrapassar cinco minutos por indivíduo, e não mais do que uma bacia de água. O refeitório dos funcionários tem horário de funcionamento das cinco da manhã às seis e meia. Às sete, todos devem se apresentar para o serviço. Assim que estiverem acomodados, procure o senhor Moisés, gerente do hotel. Ele vai lhes passar o serviço.

O homem magro fechou a porta ao sair e lembro de olhar para a minha mãe. Ela tinha os olhos assustados, enquanto analisava as condições da nossa nova moradia.

— Breno… É medonho.

— É provisório, Helga. Logo conseguiremos nos reerguer e sairemos daqui — meu pai afirmou, com seu jeito duro e seco. — Desfaz as malas, que precisamos nos apresentar. Martin, vai guardar a carroça e dá de comer ao cavalo.

Voltei à rua e levei nossa carroça até o estábulo. De lá, podia ver os fundos do hotel, tão majestoso quanto a frente. Eu me encantei por aquele prédio. Porto Alegre não tinha algo assim, não que eu tivesse posto os meus olhos.

Entre as baias, um menino preto, da minha idade, tratava os cavalos. Observou o animal que eu trazia pela rédea.

— Esse matungo deve ter até bicheira — desdenhou.

— Mas nos trouxe até aqui — alisei o pelo marrom e a crina preta engruvinhada.

— Vieram para trabalhar?

— Meu pai vai ser garçom e minha mãe, camareira.

— O meu pai é o faz tudo — ele me estendeu a mão. — Carlos, mas pode me chamar de Cadi.

— Martin Berger — apresentei-me.

— Pois vou te chamar de Fogo — ele riu. — Ou preferes Laranjinha?

— Prefiro Martin — reclamei, minhas bochechas já fervendo.

Foguinho, sem dúvida, pois tua cara está pegando fogo! — Cadi riu.

Eu realmente odiava quando isso acontecia. Herança da família da minha mãe, ela garantia. Esses cabelos encaracolados e de um tom avermelhado, a facilidade com que meu rosto esquentava e mudava de cor, quando os sentimentos me dominavam. É bem coisa dos Schneider, ela dizia.

Por fim, aquela maldita alcunha pegou, alastrou-se entre todos os meninos da nossa idade, incentivado, em grande parte, pelo Cadi e alguns guris mais velhos, que gostavam de me provocar para ver meu rosto ficar rosado e quente.

Os dias se sucederam, o hotel ficou pronto, eu ajudava o Cadi com os animais e fazia tudo que me mandassem. No dia da inauguração, os empregados foram perfilados, os uniformes revisados, aparência analisada e alguns retornaram aos seus quartos, reprovados.

Eu ganhei um quepe, uma bermuda e camisa nova, suspensório, sapatos e meias. Uma dupla de cada, para revezar, enquanto lavava. Mandaram que eu parasse ao lado da grande porta e abrisse para cada hóspede que chegasse.

Foi assim que a vi, pela primeira vez.

A carruagem parou diante das escadas. A porta foi aberta. Desceu um homem muito bem-vestido, de casaca preta e bengala, chapéu alto. Ele estendeu a mão e acompanhou a descida de uma mulher elegante, que abriu a sombrinha, assim que seus dois pés tocaram o chão. O homem lhe ofereceu o braço. Uma moça desceu sozinha e auxiliou o desembarque de mais duas meninas. Elas ajeitaram as saias e a família subiu a escadaria, que eu já sabia, tinha vinte degraus.

Abri a porta. O casal passou. Uma das meninas olhou para mim e sorriu. Seus olhos verdes encontraram os meus e meu rosto esquentou. Sei que ficou da mesma cor do vestido que ela usava. Rosa. E rosa passou a ser a minha cor preferida.

Capítulo 1


Martin

Havia muitas crianças no hotel. Mas em grupos diferentes, separados por faixa etária, condição social e gênero. Os rapazes mais velhos não se misturavam com os mais novos, a não ser para lhes tirar alguma vantagem. E os filhos dos empregados não se aproximavam dos filhos dos hóspedes. Não que houvesse essa regra escrita, dentre todas as que estavam expostas no mural fixo à entrada do alojamento dos empregados. Mas era assim que acontecia.

Mas um dia, algo mudou. Em uma manhã abafada, eu e Cadi decidimos fugir do trabalho e tomar banho na pequena lagoa atrás do hotel. Tiramos nossos uniformes, mantivemos apenas as ceroulas e mergulhamos na água rasa e de fundo barrento. Afogávamo-nos mutuamente, quando o riso feminino nos alcançou.

Escondemos os corpos seminus atrás dos juncos. Uma moça, um jovem e duas meninas surgiram por entre as árvores que separavam a lagoa do hotel. O casal estendeu uma toalha sobre o gramado e as meninas descalçaram as botas.

— Margareth, podemos molhar os pés? — perguntou a menina mais linda que eu já vira.

Aquela do vestido rosa e olhos verdes, a quem eu estivera acompanhando de longe, por todos os dias seguintes. Era a primeira vez que chegávamos tão perto um do outro. Ela nunca mais tinha sorrido para mim, sequer me presenteou com o brilho do olhar no meu. Para mim, ela era como uma aparição angelical.

— Podem — respondeu a moça, sem prestar atenção em coisa alguma que não fosse o rosto masculino ao seu lado.

Meu belo anjo ergueu a barra do vestido, seguida pela irmã mais nova, que a imitava em cada gesto. Eram muitas as camadas de sua saia e ela precisou usar os dois braços para acomodar o volume que não desejava molhar.

Gritinhos estridentes chegaram até mim e o cotovelo do Cadi encontrou minha costela. Desviei o olhar da cena para ver o que meu amigo queria.

— Acho que devemos sair.

— Nossa roupa está na margem — apontei com o queixo na direção dos dois montes sobre a grama.

— Vão nos tirar o couro se nos encontrarem pelados aqui, perto dos hóspedes.

— Quem são elas?

— Tu és muito parvo. Como não sabes? A senhorita Heloísa Montenegro e a irmã Sofia. O pai delas é irmão do senhor Mário.

Estávamos abaixados, parcialmente encobertos pelos juncos à beira d’água. Cochichávamos, na ilusória esperança de que não fôssemos descobertos.

— O que fazem aí, nos espiando?

Giramos e erguemos os rostos ao ouvirmos a voz fina que denunciava nossa presença. Nenhum de nós encontrou a voz para responder.

— E nus! — Ela percebeu, cobrindo a boca.

— Estamos de ceroulas — Cadi respondeu. Eu só conseguia ferver e prestar atenção à beleza daquele rosto.

— Pois pouca diferença faz! É uma vergonha de toda forma!

— Estás olhando porque queres.

— Ãh! — Ela arfou. — Como és petulante! Devo pedir que saiam da água e se vistam, antes que minha ama flagre essa pouca vergonha.

— Eu garanto, senhorita. É melhor que fiquemos aqui.

Cadi riu e ela voltou o olhar gelado para mim. Meu rosto esquentou ainda mais.

— Tu não dizes nada?

— Eu?

Só o que eu conseguia fazer era admirá-la, arder nas faces e cobrir as partes que ficariam visíveis se ela olhasse para baixo.

— Tu! — Insistiu.

— Talvez a senhorita possa ser gentil e nos alcançar as roupas. Assim, poderíamos nos vestir e deixaríamos de constrangê-la.

— Ah — ela admirou-se e ergueu as sobrancelhas. — Ao menos, ele tem bons modos.

Meu anjo deu-nos as costas e foi até a margem. Pegou o bolo de roupas e nos alcançou, cruzando os braços, em seguida.

— Vistam-se.

— E vais ficar olhando? — Cadi a provocou.

Com uma revirada de olhos e uma bufada, a menina nos deu as costas. Aproveitamos para nos vestir rapidamente.

— Obrigado — falei e então percebi. — Molhou o teu vestido.

Ela olhou para baixo e soltou os braços na lateral do corpo, parecendo frustrada. Virou-se novamente, reclamando.

— Minha ama vai reclamar.

— Ela não parece muito interessada nas tuas saias — Cadi argumentou.

Era bem verdade. A boca da moça estava colada à do rapaz que a acompanhava e ele tinha os braços ao redor de seu corpo.

— Minha Nossa Senhora, que vergonha! — A menina cobriu o rosto com as mãos enluvadas.

— Blasfemar não ajuda muito — Cadi afirmou.

— Esse negrinho é muito deselegante, devias dar-lhe um corretivo. Por que andas com ele?

— Posso trocá-lo pela tua companhia…

Ela sorriu, abaixou os olhos e seu rosto ficou tão rosado quanto o meu costumava ficar.

— Não nos apresentamos — estendeu a mão de forma cerimoniosa, para que eu a segurasse.

Já tinha visto as mulheres da sociedade fazerem aquilo. Lembrei como os homens se portavam e segurei os dedos, deixei um beijo em seu dorso e apresentei-me.

— Martin Berger, senhorita. Um seu criado.

— Encantada, senhor Berger. Heloísa Montenegro.

Uma gargalhada alta explodiu atrás de mim e o rosto de Heloísa, até então sorridente, transformou-se em um enfado.

— Para que horas devo marcar o chá, senhor Berger? — Cadi debochou.

— O senhor não deveria deixar seu criado se portar assim.

— Meu criado? — Estranhei.

— Perdoe-me, senhor — Cadi fez um gesto rebuscado. — A dama tem toda a razão. Por favor, não conte ao barão, seu pai.

Girei o tronco para entender aquela patifaria toda. Cadi prendia o riso com muita incompetência. Tinha um braço estendido sobre o abdômen e o outro atrás das costas, em uma reverência formal. Assim que me viu, piscou.

Entendi o que ele pretendia. Sorri, concordando imediatamente com o plano. Nada como ter treze anos e pensar que o mundo lhe pertence, que ninguém é mais esperto do que nós mesmos.

— Vou considerar — fingi, depois voltei minha atenção a quem realmente me interessava. — A senhorita me acompanha em um passeio?

Ofereci o braço e ela se enganchou. Saímos da água e caminhamos ao redor da lagoa. Heloísa se portava como uma miniatura das mulheres que desfilavam pelo hotel. Empertigada, elegante, bem-vestida e educada, embora tivesse apenas doze anos. Eu me senti um homem, ao levá-la pelo braço.

— Não o tinha visto antes, entre os hóspedes — Heloísa disse.

Por um lado, achei bom. Por outro, percebi que ela não se lembrava de mim, abrindo a porta para sua família.

— Cheguei a pouco — inventei.

— Ah… E qual a tua impressão sobre o hotel do meu tio?

— É tal qual um palácio — fui sincero. — Nunca vi nada mais bonito.

— Tens razão! Meu tio se inspirou em um hotel francês em que ficou hospedado, há alguns anos.

— Eu soube.

— E essas terras, longe dos ares insalubres da capital, é o lugar perfeito para passarmos os dias de verão. Meu pai disse que o irmão foi deveras visionário.

— Deveras — repeti. — A senhorita veio para passar a temporada de verão?

— Ah, sim! Um dia, quero conhecer a Europa. Meu sonho é morar lá. Paris deve ser memorável!

— Deve mesmo.

Eu não era um ignorante. Meus pais já tiveram uma situação melhor e enquanto o nosso hotel nos sustentava, frequentei a escola. Mas a vida nos tirou tudo. Agora, vivíamos em um pequeno quarto. Ainda assim, era notável o quanto aquela menina entendia de coisas que eu mal ouvira falar. Como se fôssemos de mundos diferentes, não apenas de classes sociais distintas.

— Admira-me que teu pai ainda use o título de barão — ela seguiu falando e meu coração acelerou, deixando meu rosto ainda mais quente. — Ouvi meu pai dizer que os títulos foram abolidos. Nós mesmo, tínhamos um primo que era Visconde e agora não pode mais referir-se a si mesmo assim. O do teu pai é brasileiro ou europeu?

— Europeu. Meu avô foi um barão prussiano — improvisei.

— Ah! — Heloísa sorriu ainda mais. — Então, ainda é válido.

Sorri-lhe de volta, constrangido. Na margem oposta da lagoa, Cadi estava deitado, secando o corpo e a roupa. A irmã de Heloísa vinha logo atrás de nós, cantarolando uma melodia infantil.

— Helô, olha as goiabas!

Voltamo-nos para ela e a pequena apontava para uma árvore carregada de frutas. O aroma chegava até nós e senti um desejo louco por goiaba.

— Queres que pegue uma para ti? — Ofereci à menina e ela assentiu.

— Tu vais subir na árvore? — Heloisa pareceu surpresa.

— Por que não subiria?

— Quem sabe chamas o teu criado? E se caíres daí e te machucares?

— Dou conta de trepar em uma árvore, meu anjo.

Heloísa arregalou os olhos, cobriu a boca, olhou ao redor.

— Usaste um vocabulário chulo, que não condiz com a tua posição e nem com a minha pessoa.

Usei? Fiquei buscando na mente qual palavra a teria incomodado. Sem encontrar resposta, apenas desculpei-me.

— Terei mais cuidado daqui por diante.

Subi na árvore e colhi as melhores goiabas. Nem muito maduras, nem verdes. Enchi meus bolsos com elas e desci, compartilhando as frutas.

— És bastante ágil.

— Nunca subiste em uma árvore?

— Evidente que não!

— Ah, pois deves tentar!

— Não sou um macaco.

— Acaso eu sou?

Heloísa olhou para os galhos, depois até a copa, enquanto mordia a polpa doce.

— Não é apropriado e é perigoso.

— Se é apropriado para o filho de um barão prussiano, por que não será para ti?

— As saias atrapalhariam.

— Estás com medo — desdenhei, mordendo o que restava da minha fruta.

Heloisa colocou o olhar verde e desafiador sobre mim. Juntou o cabelo longo e loiro em uma única mecha, que jogou sobre o ombro. Aproximou-se da árvore e levantou um pouco a saia, para facilitar.

— Posso ajudá-la?

— Espero mesmo que me ajudes e sirva de colchão, caso eu caia.

Desfiz-me do que restou da goiaba e me aproximei das costas de Heloísa, orientando onde deveria se apoiar e pôr o pé. Segurei sua cintura e ajudei a dar impulso. Ela se agarrou ao galho e aguardou por mim. Segui até alcançá-la. Nossos corpos se encostaram e meu rosto encaixou no espaço entre o seu ombro e o pescoço.

— Queres subir mais?

— Acho que é o suficiente.

Encostei minha face na dela. Estava quente como a minha. Fui ainda mais ousado e beijei sua bochecha, ouvindo o arfar que escapou de seu peito.

— A senhorita é corajosa.

— O senhor é atrevido. Melhor descermos.

Eu estava realizado. Foi minha primeira interação com uma menina, o primeiro beijo que roubei. Sorria, como um bobo, por motivo algum. Ela me mandava descer e eu ainda sorria, mesmo assim.

Pulei no chão e amparei novamente sua cintura, para que não corresse o risco de cair.

— Senhorita Heloísa! — Ouvi o grito estridente, bem próximo a nós. — O que faz sozinha com esse rapaz?

— Colhíamos goiabas — justificou-se, alisando as saias.

— Afaste-se dela! — Gritou para mim, com uma irritação desproporcional.

— Não fale assim com o senhor Martin, Margareth! Ele é um nobre!

— Nobre? — O olhar me percorreu todo. — Ele é o guri da portaria, Helô!

O rosto mais lindo do mundo virou-se para mim, com uma expressão de dúvida e decepção.

— Defenda-se! — Ordenou.

Eu apenas abaixei meu rosto, que devia estar da mesma cor da polpa da goiaba. O som que escutei, fez meu coração doer.

— Ooh! Mentiste para mim?

— Foi meu amigo quem inventou…

— Foste tu que não o corrigiste — Heloísa deu alguns passos, depois voltou-se novamente para mim. — Eu teria apreciado a tua companhia da mesma forma.

Em seguida, ela se afastou, pisando duro. Recostei-me à goiabeira e assisti de longe calçar os sapatos e seguir a ama e o rapaz de volta pelo caminho entre as árvores.

Cadi chegou até mim e apoiou a mão no meu ombro.

— Estás com cara de enrabichado.

— Mas deitei tudo a perder.

— Como se tivesses alguma chance, antes disso — ele riu e subiu na árvore.

— A culpa é tua, que inventaste essa bravata de que sou filho de barão.

Ele gargalhou, ganhando altura. Fui atrás.

— Bom, de qualquer forma, ela não é flor para o teu jardim, Foguinho.

Arranquei outra fruta do pé e suspirei. Sabia que não era, que mal lhe alcançava os pés. Mas tinha gostado muito de esgueirar-me pelos galhos e provar o seu gosto. A pele suave, perfumada e morna, contra os meus lábios.

— Vou trabalhar muito, Cadi. Um dia, vou ser rico e me casar com a senhorita Heloísa.

—  Pelo menos, tens um plano.

Eu tinha. Um plano e muitas ilusões, além de uma certeza. Eu amava aquele anjo de olhos verdes, de cabelos loiros e que corava, como eu.

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