top of page
Capítulos iniciais

Lorivaldo Barbearia: uma história de amor, fé e gratidão

Prefácio

Quando fundei a Lorivaldo Barbearia, carregava comigo um misto de esperança e necessidade. Era um sonho que precisava acontecer – não apenas por mim, mas também

por tudo aquilo que eu acreditava ser possível construir.

No início, os desafios eram muitos. Era difícil se firmar no mercado, conquistar a confiança dos clientes e fazer o nome crescer em meio a tantas opções. Mas foi a força das pessoas desta comunidade que me manteve de pé. Elas acreditaram em mim, me incentivaram a continuar, e, com o tempo, transformaram a Lorivaldo Barbearia em algo muito maior do que eu podia imaginar.

Aqui, cada cliente é tratado como parte da família. Cada corte de cabelo ou barba carrega a responsabilidade de fazer alguém se sentir melhor, mais confiante e mais feliz. Hoje, depois de tantos anos de história, continuo sentindo a mesma gratidão de quando comecei. Toda vez que alguém escolhe a Lorivaldo Barbearia, eu lembro que valeu a pena sonhar.

Este livro é uma homenagem a todos que fizeram e fazem parte dessa caminhada. É a história de um sonho realizado – e que continua vivo a cada novo dia.

Nem todo sonho nasce em meio à abundância. Alguns, como o meu, brotam do chão duro da necessidade – e mesmo assim florescem, porque são regados com esforço, fé e determinação. A vida nunca me entregou nada de mão beijada. Desde cedo, entendi que, se eu quisesse conquistar algo, teria que lutar por cada pedaço. Foi nesse espírito que a barbearia entrou na minha vida: como uma possibilidade de construir um futuro melhor, de erguer algo que fosse meu, de fazer a diferença.

Eu não tinha grandes recursos nem os melhores equipa- mentos. Tinha apenas a vontade de trabalhar, de aprender e de dar o melhor de mim em cada serviço. Comecei com as

ferramentas que podia comprar, com o espaço que consegui montar e com a coragem de quem sabe que desistir não é uma opção. A barbearia não era apenas uma profissão. Era minha esperança. Meu desafio pessoal. Minha maneira de provar para mim mesmo e para o mundo que a necessidade pode, sim, ser transformada em algo grandioso quando colocamos o coração em cada gesto.

O sonho de cortar cabelo e atender pessoas foi se moldando à minha realidade. Cada cliente que entrava era mais do que um corte a ser feito; era uma oportunidade de mostrar quem eu era, do que eu era capaz e qual valor eu queria deixar marcado – não só nos fios, mas na memória de quem me confiava sua imagem.

Foi nesse espírito, com humildade e muita vontade de vencer, que nasceu a Lorivaldo Barbearia. Não da abundância, não do luxo, mas da necessidade transformada em sonho – e do sonho transformado em missão de vida.

Nem todo corte é só estética. Às vezes, um simples corte de cabelo pode ser o início de uma conversa que cura, um gesto que acolhe, uma palavra que transforma. Nesta barbearia, mais do que fios caem ao chão: caem também as máscaras, as dores, os silêncios.

Às vezes me deparo em frente à minha barbearia. Não vejo uma fachada de encher os olhos, mas um lugar simples que permanece vivo há mais de três décadas, e, mesmo assim, tenho tantos clientes que já nem sei contar. Eu investi na amizade. Olhando para trás não tenho dúvidas que encontrei o melhor lugar para passar o resto de minha vida.

Embora muitos não estejam mais aqui, pois já partiram, me sinto abraçado por eles e pelos que me acompanham até hoje.

Lorivaldo Barbearia é um encontro com a simplicidade, com a fé e com a força que vem do alto. São histórias reais, contadas com o coração, que mostram como amor, trabalho e gratidão podem moldar não apenas cabelos, mas vidas inteiras. Um livro para quem acredita que os milagres acontecem onde menos se espera – até mesmo em uma cadeira de barbeiro.

Desde 1994, meu salão de barbearia é mais do que o meu trabalho: é o lugar onde os causos acontecem, onde amizades se fortalecem e onde as lições mais profundas da vida são aprendidas – às vezes com uma tesoura na mão e um sorriso no rosto. Este livro nasceu da vontade de registrar essas histórias. Coisas que, se eu contasse por aí, muita gente não acreditaria. Momentos que mostram que o simples pode ser extraordinário, e que a vida, mesmo nos seus tropeços, nos ensina a seguir em frente. Espero que, ao ler estas páginas, você possa se divertir, se emocionar e, quem sabe, se reconhecer em alguma dessas memórias. Porque no fundo, a vida de todos nós é feita assim: um corte aqui, uma risada acolá, um sonho que teima em viver.

Falando em Milagre...

Eu tinha 18 anos na época, fazia curso de barbeiro sonhando um dia abrir meu próprio negócio e ter minha barbearia, morava sozinho com meu irmão mais novo. Estávamos passando por um momento muito difícil: sem nada para comer em casa e sem dinheiro nem para comprar um pão. Ainda faltavam cerca de dez dias para o pagamento, e, naquela época, nossa única refeição era no refeitório da fábrica, na hora do almoço.

Era um domingo. Morávamos no bairro Liberdade. Resolvi sair para fazer um cooper. Subi a Rua Sete de Setembro em direção à BR-116. Foi então que vi um Gol quadrado, parado na beira da rodovia, com placa de Caxias do Sul. No banco do carona, uma mulher lixava as unhas enquanto o marido, visivelmente apavorado, tentava resolver o problema: estavam sem gasolina. Ela, por sua vez, reclamava:

— Eu te avisei para colocar gasolina!

O homem me perguntou onde havia o posto mais próximo. Apontei para o posto na entrada da Frederico Linck, acerca de um quilômetro e meio dali. Perguntei se ele tinha um galão e me ofereci para buscar gasolina para eles. Ele pegou o dinheiro do bolso, mas só tinha uma nota alta – a maior da época. Percebi a dúvida no olhar dele. Então, olhei

firme e disse:

— Pode confiar, sou honesto. Vou buscar e trazer o troco certinho.

Ele, sem muita opção, arriscou. Peguei o dinheiro e, no meu trote, fui até o posto. No caminho, a tentação passou pela minha cabeça: se eu entrar aqui pelo bairro e ir por trás do Amapá, ele nunca mais vai me ver... Afinal, Deus sabia como eu precisava daquele dinheiro. Mas meu coração não permitiu. Cheguei ao posto, comprei a gasolina, voltei e entreguei tudo certinho. Quando me viu voltando, o homem brilhou os olhos sem acreditar que eu tinha retornado. Ele ainda me ofereceu uma gorjeta, mas eu não consegui aceitar.

Voltei para casa. Peguei um caderno que guardava numa estante – onde eu costumava escrever sobre meu dia – para registrar aquela história e, ao abrir o caderno, encontrei

ali dentro um dinheiro guardado, suficiente para comprar mantimentos para quinze dias!

Juro por tudo que é mais sagrado: não me lembro de ter colocado aquele dinheiro ali. Vivendo apertado como eu vivia, seria impossível esquecer. Tenho consciência de que, em algum momento, o escondi ali – mas, quando mais precisei, Deus me mostrou exatamente onde ele estava.

Gostou e deseja continuar a leitura?
bottom of page