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UMA OFICINA
ATRAVÉS DO TEMPO

capítulos iniciais

Era o ano de 1926.

 

 

​       26/jan:
​      Getúlio Vargas é eleito Deputado-Federal pelo Rio Grande do Sul.

 

​       1/mar:

​       É realizada a eleição presidencial direta. Washington Luís é eleito presidente da República com 688.528 votos. Empossado em 15 de novembro.

​       16/mar:
Nasce Joseph Levitch, mais conhecido como  Jerry Lewis, ator, roteirista, diretor, produtor, cantor e filantropo americano falecido em 2017 com 91 anos.

 

       01/Jun: Nasce em Los Angeles, nos Estados Unidos, Norma Jeane Baker, conhecida como Marilyn Monroe, grande “sex-symbol” do séc. XX. Imortalizada no cinema por desempenhar papéis de personagens sedutoras e sensuais. Faleceu em 1962 com 36 anos.

 

       28/jun: Nasce Melvin Kaminsky, mais conhecido como Mel Brooks, diretor, produtor, roteirista e ator norte-americano.

 

       23/ago: Morre Rodolfo Alfonso Raffaello Pierre Filibert Guglielmi di Valentina D'Antonguolla, mais conhecido como Rodolfo Valentino, ator italiano radicado nos Estados Unidos, célebre pelas suas atuações em que interpretava papéis de homem fatal que subjugava as mulheres, dando assim origem ao mito do “macho latino”. Tinha 31 anos.

 

       E, no dia 27 do mês de setembro, nasce Olívio Damiano Sonaglio (Damiano em homenagem ao santo do dia), filho de Giorgio Sonaglio, alfaiate, e Carolina Consorti, do lar. Registrado no Cartório do Registro Civil de nascimentos em Anta Gorda – 2º Distrito de Encantado, o local de nascimento, como ele mesmo afirmava, seria Paredão que, pelo visto, também era Distrito de Encantado.

       Vindos de famílias de atividade agrícola e de poucas posses, meus avós paternos adquiriram uma área de terra de apenas 10 hectares em Guaporé, na localidade de Linha Cristóvão Colombo (Linha Colombo, ou popularmente chamada de Colomba). A área cultivada não produzia o suficiente para o sustento da família, por isso se fazia necessário cultivar outras áreas de propriedade de vizinhos. Dos produtos colhidos, tinham que dar uma parte aos donos dos terrenos. Na época da colheita da erva-mate, todos os membros da família, desde as crianças aos adultos, se dedicavam à colheita. Nos períodos em que não havia esses serviços, a família se dedicava a outras atividades.

       A irmã mais velha do pai, Sibylla, casada com o tio Silvio Ortolan, morava em Dois Lajeados, local que ficava a uns 8 quilômetros da Colomba. Como tinha filhos pequenos, o pai foi designado quando adolescente a morar na sua casa para cuidar das crianças por um tempo. Depois passou a prestar serviço de coleta de leite nas residências do trajeto de Dois Lajeados até Linha Colombo (não sei por que todos chamavam e ainda chamam de “Colomba”). A cavalo, ele transportava dois recipientes nos quais colocava o leite que recolhia e entregava numa fábrica de queijo e derivados do leite na Colomba, de propriedade de Giovanni Baptista Ortolan.

       A vida foi mudando, e o irmão mais velho, Avelino, conseguiu trabalhar na oficina mecânica Ford, em Guaporé. O pai não tardou a procurar e obter emprego na mesma oficina, iniciando na sessão de pintura automotiva. Após alguns anos, outro irmão, o mais novo, Abílio, também foi trabalhar na mesma oficina. O tempo passou e os irmãos Avelino e Olívio, junto com outros amigos também mecânicos, formaram uma sociedade e montaram uma oficina mecânica em Porto Alegre — era uma das maiores oficinas da cidade. Mas, no decorrer do tempo, houve certas desavenças entre os sócios e resolveram dar término da dita sociedade. No período em que funcionou a oficina, o pai aproveitou para transformar sua profissão em algo mais do que mecânico e adquiriu, de um conhecido, um automóvel FORD Prefect que, por um azar, havia incendiado. Aos poucos, nas horas de folga diárias e fins de semana, conseguiu reformá-lo e vendê-lo, lucrando com isso um bom dinheiro na época.

       Com o fim da sociedade em Porto Alegre, os irmãos Sonaglio transferiram-se para Guaporé, novamente para trabalhar na mesma FORD, só que desta vez como chefes. Avelino ficou na sede em Guaporé e Olívio ficou como chefe da filial da FORD em Serafina Corrêa.

       Nesse período de transição, o pai já namorava minha mãe, Leda Dal Piva, e então se casaram e foram morar em Serafina Corrêa (também chamada Linha Onze). Passaram um tempo curto de permanência no local, pois minha mãe não se acostumou a morar lá e convenceu meu pai a voltar para Porto Alegre. Voltar para Porto Alegre e iniciar tudo novamente não foi tarefa fácil, mas não tirou dele a vontade de progredir naquilo que sempre confiou, a mecânica de automóveis. Em Porto Alegre, como não tinha um lugar fixo para começar, os primeiros serviços da oficina foram no pátio da casa do sogro Cazemiro Dal Piva, na rua D. Pedro II, por pouco tempo.

       Juntamente com o cunhado, Sr. Djalma Tonietto, que na época trabalhava no Expresso Caxiense, formaram uma sociedade de nome OLÍVIO SONAGLIO & CIA LTDA e se estabeleceram na Rua Dr. João Inácio, 1338. O terreno era pequeno, com uma casa de madeira e, ao lado, havia uma entrada com um portão de madeira onde era o acesso dos carros para a oficina. Um pequeno galpão abrigava o escritório e alguns carros.

Estabelecido naquele local, em pouco tempo conquistou uma freguesia que lhe dava um bom resultado.        O ingresso do sócio, por ter deixado de trabalhar no Expresso Caxiense, resultou num reforço na atividade. Com o aumento dos serviços e sempre na expectativa de aumento da área, conseguiram adquirir aos poucos terrenos lindeiros e nos fundos do número 1338. Diante da aquisição desses terrenos, se fazia necessária uma melhora na área de serviço da oficina. Com a construção do prédio na frente, houve também uma melhora no pavilhão de dentro e nos fundos.

A FAMÍLIA DE OLÍVIO

       A família, então composta de oito irmãos, em certo momento migrou para Guaporé, e a lida da colônia aliada ao ofício de alfaiate do pai, Giorgio, gerou o sustento para todos, cada um com sua tarefa.

 

  1. Giorgio Sonaglio

  2. Carolina Consorti Sonaglio

  3. Naimo Antonio Sonaglio

  4. Avelino Alexandre Sonaglio

  5. Olívio Damiano Sonaglio

  6. Abílio Amadeu Sonaglio

  7. Corinda Sonaglio (Iquilina)

  8. Idalina Sonaglio (Ida)

  9. Lídia Sonaglio

  10. Sibylla Sonaglio

             Pai:  Giorgio Sonaglio (1892)

             Mãe: Carolina Consorti

             Irmãos:

Sibylla, Lídia, Idalina (Ida), Avelino, Corinda (Iquilina), Abílio e Naimo.

Avô paterno:  Alessandro Ambrogio Sonaglio (1849)

Avó paterna:  Lucia Paulini (1863)

Avô materno: Luiz Consorti

Avó materna: Regina Lorenzon

 

       A vida na colônia, como sabemos, era dura. Havia o irmão Avelino, já casado, morando em Porto Alegre que, conjuntamente com o irmão Abílio, ainda morando na “Colomba”, fundaram uma sociedade com cerca de oito sócios voltada para consertos de automóveis: mecânica, chapeação, pintura etc., sediada no chamado quarto distrito de Porto Alegre, bairro Navegantes.

       Eram muitos sócios para a administração e poucos para o trabalho duro. Um deles gostava de ler todos os jornais (ou um só jornal da época) antes de se dedicar às tarefas que lhe competia. Resultado: Olívio indignado com a atitude do leitor assíduo. Houve atrito direto e a consequente dissolução da grande (em número de sócios) sociedade.

       Nesse meio tempo, Olívio conheceu Leda, filha de Cazemiro Dal Piva e Henriqueta Dal Piva. Ela, nascida em Caxias do Sul em 8 de março de 1931, estava com sua família (irmãs Lila, Cecilia e Antonieta) em Porto Alegre, onde moravam, no início da Av. Dom Pedro II, esquina com Benjamim Constant – propriedade que cedeu lugar ao viaduto. O sobrado abrigava na parte térrea um bar cuidado pela minha avó Henriqueta e as filhas, minhas tias, e, no pavimento superior, a moradia da família. O avô Cazemiro fazia a entrega do leite com seu caminhão, dali bem próximo, a DEAL (Departamento Estadual de Abastecimento de Leite), hoje Companhia Riograndense de Laticínios e Correlatos (CORLAC).

       Em pouco tempo, Olívio e Leda se casaram e foram tocar a vida conjunta em Serafina Corrêa, distrito de Guaporé. Ele sempre com a iniciativa particular na prestação de serviços para consertos de automóveis. Mais uma oficina. Desta feita, com menos sócios; um deles, Leonório Turmina e, me parece, também o irmão Avelino. Sociedade em pleno vapor. O problema ou empecilho naquela época era o lugar. Imaginem só a cidade de Serafina Corrêa há 60 anos. Terreno montanhoso, árvores, pedras e barro quando chovia. Minha mãe, já grávida de mim, não se adaptou bem àquela condição e começou a indagar ao pai para voltar para Porto Alegre e poder estar perto da família. E ainda havia a possibilidade de formação de uma nova sociedade com Djalma Tonietto, casado com sua irmã Lila, oriundo do Expresso Caxiense onde trabalhava no setor administrativo.

       Com oito meses de gestação, minha mãe e meu pai se transferiram para Porto Alegre e aqui nasci um mês depois. Para meus amigos, quando me perguntam de onde eu sou, lhes digo que, embora nascido em Porto Alegre, sou de Serafina Corrêa (também conhecida como Linha 11). Mas como assim? — indagam eles. Respondo-lhes alegremente: Concebido e desenvolvido durante oito meses na barriga de minha mãe em Serafina Corrêa carrega muito mais do que um mês de Porto Alegre. Não se convencem muito, mas é minha história e assim é que sinto.

       Com a chegada de Leda e Olívio, estava encaminhada a fundação da sociedade com Djalma Tonietto.  Então, em 06 de abril de 1956, foi fundada a empresa OLÍVIO SONAGLIO & CIA LTDA. Capital Social de Cr$ 40.000 (quarenta mil cruzeiros). Abaixo, o Contrato Social.

 

OFICINA MECÂNICA 

       A sociedade registrada conforme contrato social sob nome OLÍVIO SONAGLIO & CIA LTDA, estabelecida na rua Dr. Joao Inácio, 1338, se dedicou em alta escala à chapeação, pintura e serviços de mecânica. Dando continuidade ao crescimento, visto a maneira simpática com que Olívio tratava seus clientes, conseguiu amear os serviços das companhias de seguro.

       Com o aumento da área de serviços devido à compra de terrenos vizinhos, se fez necessária uma modificação na área da oficina. As instalações eram precárias, piso de cimento irregular, telhados de vários tipos e muitos usavam solda com carbureto e água nas instalações dos chapeadores. Com esta reforma foram feitas novas instalações utilizando um sistema que facilitava o serviço e a segurança. Na parte da pintura, uma estufa e ventiladores para secagem.

       O escritório no início estava instalado nos fundos, em uma área pequena e sem conforto, já não mais condizente com a época e o tipo de oficina. Após o término da construção do prédio, o setor de peças e ferramentas e o escritório foram também transferidos para a parte da frente. As instalações desta área foram construídas nos fins de semana pelo cunhado do Olívio, Sr. Eurico Moser, casado com Cecilia, irmã de Leda, auxiliado por Nairo Ortolan, sobrinho de Olívio, que trabalhava no escritório.

       O escritório era atendido pelo Sr. Djalma, e Nairo atendia no setor de peças e ferramentas, catalogadas em painéis controlados com fichas individuais. Com o aumento da atividade, foi admitido um auxiliar, o Paulinho (Paulo Rodhen Garcia), dando com isso mais folga para Nairo atender o escritório, o setor de pessoal, a folha de pagamento, a contabilidade, o registro de notas etc.

       A atividade da oficina era bastante e havia a tendência de crescer cada vez mais. Para atender à demanda dos serviços, a oficina mantinha uma equipe de profissionais devidamente competentes. Na linha de chapeação era o Sr. Francisco, exímio profissional. Não tinha serviço de recuperação que ele não fizesse. Na área de pintura, o Sr. Ângelo Fernandes, experiente profissional cuja equipe sabia, tanto em retoque como em pintura geral, transformar as partes chapeadas em pintura original. A área mecânica não era o forte, mantinham-se sempre os que mais se destacavam.

       Através da confiança e da repercussão de uma oficina que se responsabilizava por executar bem os serviços, tanto para clientes particulares como para outras entidades, como as companhias de seguros, teve a oportunidade de efetuar a reforma de um carro utilizado por uma grande figura brasileira: o carro 1936, de uso de Getúlio Vargas quando passava férias em São Borja. Carros de Argentinos eram entregues totalmente acabados, demolidos, e fazia-se a reforma, pintura, cromagem, transformando-os como novos.

       Para termos uma ideia da área construída ao longo do tempo, podemos descrever assim: inicialmente o terreno de número 1338, adquirido na Rua Dr. João Inácio, possuía uma testada de 16,5 m por 42 m de frente a fundos, totalizando 693 m2.

       Com o passar do tempo, foram adquiridas propriedades lindeiras pela João Inácio situadas nos números 1340, 1366 e 1320, ampliando a área para mais 1740 m2. Mais tarde disponibilizaram-se áreas de fundos dos terrenos na rua Dr. João Inácio, comunicando-se com mais dois terrenos de frente para a Av. Ceará, propriedades estas que foram adquiridas paulatinamente, totalizando mais 2110 m2.

       Em resumo: desde o puxadinho localizado no número 1338, com 693 m2, foram totalizados 4500 m2 de área térrea da oficina. As duas moradias de nossas famílias (do pai e do tio) totalizavam mais 340 m2 em pavimento superior nos números 1338 e 1340.

       O sucesso da oficina era evidente, prova foi que nos anos 70 a FIAT se instalou no Brasil e a oficina foi cogitada, sendo convidada a se tornar uma concessionária FIAT em Porto Alegre. Seria a primeira delas por aqui. Mas como eu e o meu primo Djalma, filho do tio sócio do pai, naturais sucessores do negócio, estávamos cursando a faculdade de engenharia com os interesses um tanto diferenciados daqueles da FIAT, a ideia não prosperou.

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