Som e sentido

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O poema existe para ser ouvido
há de se escutar a dicção do poema;
perceber sua métrica, modulações,
ritmos, silêncios.

O poema existe para ser ouvido,
sussurrado ou em voz alta.
E na pauta da partitura
é preciso entender
a estrutura que nos falta.

O poema existe alternado
entre pausas e batidas,
num compasso desregulado,
tal como pulsa o coração
tal como pulsa a vida.

Um poema existe para ser ouvido.
Som e sentido unidos
(ou em constante conflito)
seja como prece
seja como grito.

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Mais tarde

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Mais tarde a gente conversa
Mais tarde eu penso em um verso
Depois termino a poesia
Porque é tanta correria. 

Mais tarde programo a viagem
Adiante te mando mensagem
Pode deixar que te chamo
Mais tarde eu digo: te amo

A gente vai se falando
Quem sabe a gente combina
E se cruza por essas esquinas
Eu sinto tanta saudade.

Tu sabes, eu ando sozinho
Quem sabe a gente se fala
Um dia eu ainda te digo
De quando sonhei contigo.

Mas a gente vai se falando
quem sabe te vejo mais tarde
quem sabe mais tarde te vejo
queria te dar só um beijo
quem sabe mais tarde nem seja
assim meio tarde demais.

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Cantiga

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Quando dorme a minha filha
Dormem as horas nos relógios
Dormem ódios e remorsos
Dormem em solidão secreta 
os corais.

Quando dorme a minha filha 
Dorme a lua no telhado
Dormem as gatas
Dormem os gatos
Ficam mudas as serenatas
nos beirais.

Quando dorme a minha filha
Dormem ruas e calçadas
Dorme a noite sossegada
Dorme o peso de acordar. 

Quando dorme a minha filha
Dormem estrelas na janela
E o vento se enovela
E inventa uns versos pra ninar.